Você sabia que a ONU Meio Ambiente é neutra em
carbono desde janeiro de 2008? Na verdade, em torno de um terço das agências
das Nações Unidas já alcançaram a neutralidade em carbono. Isso significa que
as emissões de gás carbônico geradas por suas atividades foram reduzidas e
compensadas por iniciativas para armazenar gases do efeito estufa presentes na
atmosfera.
Em 2007, dirigentes do organismo internacional
aprovaram a Estratégia de Neutralização do Clima da ONU, que pedia a cada
instituição da Organização para medir, diminuir e compensar emissões de gases
do efeito estufa. A ONU Meio Ambiente recebeu do secretário-geral a missão de
liderar as Nações Unidas na implementação desse marco.
As emissões de CO2 respondem por 82% do aquecimento
global. O restante é associado principalmente aos gases metano e óxido nitroso,
com um potencial muito maior de elevação da temperatura.
Em novembro passado, um relatório da Organização
Meteorológica Mundial - OMM revelou que as concentrações globias médias de gás
carbônico haviam aumentado pelo terceiro ano consecutivo em 2017, bem como as
taxas de metano e óxido nitroso. O documento também apontou o ressurgimento da
ameaça do CFC-11, que não só pode aumentar a temperatura do planeta como também
destruir a camada de ozônio — essa substância já é regulada pelo Protocolo de
Montreal.
Também em 2018, uma publicação da ONU Meio Ambiente
revelou que as emissões globais de gases do efeito estufa em 2030 precisam ser
de 25% a 55% menores do que em 2017 para colocar o mundo em um caminho de menor
custo a fim de limitar o aquecimento global a 2 °C e 1,5 °C.
Como a ONU Meio Ambiente neutralizou seu impacto
climático?
A ONU Meio Ambiente alcançou a neutralidade
climática por meio de um programa de compensações baseado na mitigação e na aquisição
de certificados de redução das emissões em projetos, principalmente na Ásia.
Essas diminuições foram validadas pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre
Mudanças Climáticas - UNFCCC. Essa estratégia foi combinada a uma redução
líquida de 35% em sua pegada climática, o que garantiu a neutralidade do seu
impacto sobre as alterações do clima ao longo de uma década.
Uma dos gargalos desses esforços são os voos. As
emissões de CO2 devido aos voos de funcionários da ONU Meio Ambiente e de
pessoas que a agência convida para conferências e reuniões respondem por cerca
de 80% de todas as dispersões de gás carbônico do organismo. Mais da metade
(56%) de todos os voos pagos pela instituição são para participantes de eventos
organizados pela ONU Meio Ambiente.
A proporção de voos na classe executiva caiu de 22%
em 2011 para 10% em 2016, embora tenha havia um aumento de 35% nas emissões em
2017. Com a exceção do ano retrasado, as emissões associadas aos voos
observaram uma tendência geral de queda.
“A pegada (ambiental) dos voos da ONU Meio Ambiente
é típica de uma pequena agência do Secretariado que atende a muitos
Estados-membros”, afirma o oficial de Sustentabilidade e Neutralidade Climática
da agência, Shoa Ehsani.
Segundo o especialista, o impacto climático dos
voos do organismo “não pode ser comparado com o de outras agências da ONU, como
as Operações de Paz ou o Programa Mundial de Alimentos, que têm emissões per
capita de voos bem menores, mas emissões para transporte terrestre muito mais
altas”.
“Nossa pegada climática é o nosso custo em carbono
de fazer negócios, (meios) eficientes devem nos ajudar a reduzir isso ao mesmo
tempo em que cumprimos nosso mandato”, completa.
A ONU Meio Ambiente registrou uma queda de 50% nas
emissões entre 2010 e 2016. Isso manteve a agência à frente do ritmo de
reduções de emissões dos países do Protocolo de Kyoto (3% ao ano) — a taxa de
diminuição desse acordo foi instituída pelas nações e pela UNFCCC.
No geral, o corte nas emissões da ONU Meio Ambiente
foi possível por meio de uma ampla diminuição nos voos, em especial os voos da
classe executiva. Em 2017, um aumento de 42% nas viagens aéreas — na comparação
com 2016 (ou de 21% na comparação com o valor base de 2010) — levou a redução
da pegada da ONU Meio Ambiente para 35% ao longo de sete anos. Contudo, aponta
a agência, esses valores não incluem emissões do uso de veículos pessoais pelos
funcionários.
Compensar as emissões de dióxido carbono é uma
vitória rápida de ser conquistada por companhias ricas, organizações e indivíduos,
uma vez que essa estratégia delega o trabalho de compensação para países e
empresas que podem ajudar na mitigação global a um custo menor, permitindo que
outros atores comprem esses esforços como créditos. Mas essa não é a solução
mais sustentável para mitigar as mudanças climáticas, uma vez que esse tipo de
política não altera os comportamentos das pessoas. Outras ações para
implementar políticas verdes são indispensáveis.
O complexo da ONU em Nairóbi: uma história de
sustentabilidade
O complexo da ONU em Nairóbi, no Quênia, cobre 56
hectares e recebe de 3,5 mil a 4 mil pessoas todos os dias úteis. A área conta
com painéis solares que fornecem em torno de 12% de toda a energia consumida
pela estrutura. O resto vem de geradores a diesel instalados no local, que
respondem por 7% do abastecimento, e da Companhia de Energia e Luz do Quênia.
Em 2017, o complexo começou a separar e reciclar
seus resíduos, com a meta de reduzir em 90% a quantidade de lixo que era
enviada para aterros sanitários. Dados atuais indicam que a queda já alcançou
os 70%, por meio da reciclagem. A expectativa é bater os 90% e ultrapassar esse
valor em alguns anos.
Outras ações para reduzir a pegada de carbono do
complexo incluem a disponibilização de 13 ônibus que levam e trazem funcionários,
deixando-os em algumas localidades perto de onde moram. Alguns desses veículos
rodam com biodiesel. O Escritório da ONU em Nairóbi também incentiva o trabalho
flexível e o home office, para evitar engarrafamentos no trânsito e dispensar
os profissionais da necessidade de vir todo dia ao escritório. Durante o Dia
Mundial do Meio Ambiente, são servidas no refeitório opções de comida saudáveis
e que não contêm carne.
O Escritório Executivo da ONU Meio Ambiente e a
Assembleia Ambiental das Nações Unidas são considerados ecologicamente
responsáveis e climaticamente neutros. Muitos processos internos da ONU já não
utilizam mais qualquer papel. Apenas na ONU Meio Ambiente, são usadas de 6 a 8
milhões de folhas de papel por ano, com um gasto anual em papel e impressão
estimado entre 80 mil e 100 mil dólares.
Ainda nas instalações de Nairóbi, um conjunto de
placas fotovoltaicas produz eletricidade suficiente para neutralizar o consumo
de energia da ONU Meio Ambiente.
“Alguns argumentam que simplesmente compensar as
emissões de carbono comprando créditos de carbono é uma receita para uma
atitude de ‘business as usual’. Embora muito mais passa ser feito no complexo
da ONU para ampliar o uso de energia renovável e sofisticar os esforços de
reciclagem, estamos no caminho certo”, completa Ehsani.
Fonte: ONU.