Congresso de ambientalistas discute economia e conservação da natureza
[01/08/2018]
A
representante do escritório da Organização das Nações Unidas - ONU no Brasil,
Denise Hamú, disse que a implementação da Agenda 2030, que estipulou os 17
Objetivos de Desenvolvimento Sustentável - ODS, entre eles, a erradicação da
pobreza no mundo, levou pela primeira vez o organismo internacional a trabalhar
em parceria. “A gente precisa dos diálogos e da sociedade civil forte e
empoderada”, afirmou.
A
representante da ONU falou durante participação no dia 31/07, no 9ª Congresso
Brasileiro de Conservação - CBUC, que reúne até quinta-feira (2), em
Florianópolis, Santa Catarina, especialistas e ambientalistas de diversas
partes do mundo para discutir os futuros possíveis da conservação conjugando
economia e natureza. O CBUC, que completa, em 2018, 20 anos de estudos e
debates sobre o tema, é organizado pela Fundação Grupo Boticário.
No
encontro, um dos mais importantes da América Latina, a representante da ONU
Meio Ambiente disse que queria lançar “uma provocação” aos participantes para
um maior engajamento na implementação da Agenda 2030. Segundo ela, as propostas
são apresentadas em assembleias anuais da ONU, mas não são discutidas com a
sociedade. Para Denise Hamú, a área ambiental é feita de parcerias e os temas
precisam ser discutidos não apenas entre os especialistas. Conforme indicou,
além da discussão de proteção das áreas, agora, o momento é de atuar com a
sociedade e o setor privado relacionado ao meio ambiente, para ampliar os modelos
de conservação com lucro, que possam gerar emprego e renda, para as comunidades
terem vidas mais dignas.
Na
visão da representante, a reforma da ONU encabeçada pelo secretário-geral,
António Guterres, vai contribuir para a expansão dos diálogos para a
implementação dos ODS. “Vai facilitar, mesmo porque, todas as agências têm que
trabalhar para que os ODS acontecerem nos países. Não somos nós que vamos
liderar estes processos, mas vamos trazer as experiências de um país para outro
de regiões parecidas. A gente estará sempre trabalhando proativamente com os
governos para fazer esta fertilização de ideias, bons exemplos, para que a
gente possa avançar junto”, contou à Agência Brasil.
O
empresário Pedro Paulo Diniz, diretor administrativo da Fazenda da Toca, em
Itirapina, a 200 quilômetros da capital de São Paulo, especializada na produção
de produtos orgânicos, concordou com a provocação, mas ponderou que é preciso
deixar de polarizar as posições no debate entre a favor e contra, porque isso
impede a sequência das discussões e representa uma perda de energia. “Acho que
fazer o nosso papel polarizando não leva a lugar nenhum. Acho que temos que
conciliar os interesses e continuar caminhando sem querer defender muito o
certo e o errado. O importante é fazer”, apontou.
Efeitos
Diniz
garantiu que um terço da terra fértil do planeta desapareceu nos últimos 40
anos e que 30% dos alimentos produzidos no mundo são perdidos no meio da cadeia
no cenário em que 1 bilhão de pessoas passam fome, o que mostra que o sistema
não funciona direito. Essa constatação o levou a desenvolver a produção
orgânica em larga escala na Fazenda Toca de 2.300 hectares. Em 10 anos de
acertos e erros aprendeu com a natureza a criar sistemas produtivos de
fruticultura com orgânicos fugindo da agricultura tradicional que utiliza
defensivos industrializados, comprometendo a vida da terra. “Hoje estou
convencido de que o jeito mais eficiente de sequestrar carbono é por meio do
solo, e solos vivos são os que mais sequestram carbono”, afirmou. Ele destacou
mais uma vantagem neste tipo de produção, que pode ser reforçada com o emprego
de sistemas de energia renovável.
Da
experiência com a Toca surgiu a empresa Rizoma, um o projeto-piloto
desenvolvido em uma fazenda de 1.500 hectares, também em São Paulo, mas
dedicada à agricultura regenerativa. “A gente está preparando a terra,
estaremos plantando a safra 2018/2019 para colher no primeiro semestre do ano
que vem. Basicamente milho, soja, e estruturando o sistema de pecuária em uma
integração de pecuária e floresta. Com vários consórcios, é uma fazenda
demonstrativa que tem viabilidade econômica. Isso a gente vai registrar para
inspirar outros empresários”, completou, acrescentando que está no radar da
empresa trabalhar com produtores de agricultura familiar. “A gente tem algumas
iniciativas. A Toca tem umas parcerias. Está no nosso radar”.
O
vice-presidente sênior de Mercados e de Alimentação da WWF dos Estados Unidos,
Jason Clay, contou a experiência que teve no norte do Brasil, quando, na década
de 1980, desenvolveu projetos de produção de castanhas que seriam destinadas a
empresas americanas. Ele contou que o projeto, criado em Xapuri, no Acre, gerou
empregos e mudou as políticas públicas do estado. “Entre as primeiras lições
que aprendemos, foi investir na qualidade e na eficiência”, observou,
completando que é preciso fazer a integração de experiências entre os projetos
desenvolvidos. “Precisamos de pessoas que façam a polinização cruzada, passando
informações de uma empresa para outra”.
Avanços
O
presidente do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBio,
Paulo Carneiro, que representou o ministro do Meio Ambiente, Edson Duarte, na
abertura do encontro, informou que a entidade gerencia atualmente 335 unidades
de conservação pública e 682 reservas particulares do Patrimônio Natural - RPPN,
que correspondem 9% do território continental do Brasil e 25% da zona econômica
marinha. Carneiro admitiu a dificuldade de realizar o trabalho, mas ressaltou
que os profissionais ligados ao instituto têm conseguido cumprir a tarefa. Ele
espera que o congresso permita a discussão de avanços técnicos na área, que
precisa de uma atuação conjunta. “Nós já mostramos como juntos onde podemos
chegar. Ao mesmo tempo divididos nós perdemos força, o que já aconteceu no
passado”.
O
Diretor-presidente do Grupo Boticário, Artur Grynbaum, disse que o desafio para
a conclusão do encontro é que todos os participantes saiam mais preparados para
enfrentar as situações futuras na área de conservação. Ele lembrou, que em
outras edições, as moções, propostas apresentadas para a conservação da
natureza, levaram à criação de novas unidades protegidas. “O objetivo desse 9º
CBUC é ir além, evidenciando ainda mais as conexões entre economia, natureza e
bem-estar”.
Legislação
Para
o Ministro do Superior Tribunal de Justiça, Herman Benjamin, a lei brasileira
que instituiu o sistema brasileiro de unidades de conservação é tecnicamente
razoável e não está apenas nas prateleiras, uma vez que os tribunais vêm se
deparando com questões jurídicas com relação à aplicação dessa legislação.
Embora tenha destacado que as unidades de conservação contam com bons
profissionais, defendeu que precisam de mais recursos, porque elas não se
afirmam em um passe de mágica. “Nós temos uma responsabilidade enorme, em um
oceano de degradação e de destruição da natureza, de buscarmos para as gerações
futuras aquilo que, em direito ambiental, chamamos de direito à vida, em outras
palavras, as bases ecológicas da vida”, disse por meio de um vídeo transmitido
no encontro.
Fonte: Jornal do Brasil.
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