Desde o rompimento da Barragem de Fundão, da
Mineradora Samarco, em Mariana, ocorrido no dia 5 de novembro de 2015, o Estado
de Minas Gerais, por meio do Instituto Mineiro de Gestão das Águas - Igam
realiza, de forma sistemática, o monitoramento especial na Bacia do Rio Doce em
14 estações de monitoramento. Uma avaliação detalhada do comportamento dos
principais parâmetros monitorados é apresentada no 3º Encarte sobre o
Monitoramento Especial do Rio Doce, publicado nesta quinta-feira, 13 de
dezembro, pelo Igam.
O documento traz a comparação entre os resultados do
1º semestre de 2018, com o período pré-rompimento e com os dados estatísticos
do primeiro e segundo anos após o rompimento da barragem. A análise se refere
aos trechos diretamente impactados da Bacia do Rio Doce.
Na ocasião do desastre, foram lançados aproximadamente
44 milhões de metros cúbicos de lama, mistura de rejeito do processamento de
minério de ferro e água, atingindo o córrego Santarém e os rios Gualaxo do
Norte, do Carmo e Doce, desde sua nascente até a foz.
Neste trajeto, a lama percorreu aproximadamente 663
quilômetros (km).
Em 2 de março de 2016 foi firmado um Termo de
Transação e de Ajustamento de Conduta (TTAC), entre a Samarco e suas
controladoras Vale e BHP Billiton, os governos federal e dos Estados de Minas
Gerais e Espírito Santo. Em decorrência do TTAC assinado, foi criado o Comitê
Interfederativo (CIF), sistema de governança que tem como função orientar e
validar os atos da Fundação Renova, instituída pela Samarco e suas acionistas,
para gerir e executar as medidas de recuperação dos danos resultantes da
tragédia.
Monitoramento Especial Rio Doce – Igam
Periodicamente, os dados do monitoramento realizado
pelo Igam são consolidados, na forma de relatórios técnicos e boletins informativos,
com o intuito de orientar as ações dos órgãos competentes, tanto na esfera
estadual quanto na federal, bem como para fornecer à sociedade o conhecimento
da situação da qualidade das águas atingidas pelo desastre.
Após o rompimento da Barragem da Samarco, a qualidade
das águas do rio Doce sofreu alteração em diversos parâmetros monitorados,
principalmente aqueles associados à presença de sólidos, tais como turbidez e
metais, como ferro dissolvido e manganês total.
É importante destacar que há uma variação expressiva
dos resultados dos parâmetros em função da sazonalidade (período seco e período
chuvoso). Os dados do monitoramento da qualidade das águas, realizado
mensalmente pelo Igam, apontam que no primeiro ano após o acidente (2016), os
valores dos parâmetros turbidez, manganês, ferro e alumínio apresentaram uma
expressiva elevação no Rio Doce em função do rompimento da Barragem de Fundão.
Já no segundo ano do monitoramento observou-se redução dos mesmos (à exceção do
ferro e alumínio). Já em 2018, o que se observa é um aumento, tanto no período
seco, quanto no período chuvoso, desses metais e da turbidez.
De acordo com a Diretoria de Gestão da Bacia do Rio
Doce da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
(Semad), houve na região de Barra Longa uma série de obras para a retirada de
constrições presentes no leito do Rio do Carmo a fim de evitar possíveis
alagamentos no período chuvoso, o que pode ter gerado mudanças na qualidade da
água. Além disso, após o período chuvoso, a Fundação Renova realizou diversas
ações de manutenção das obras de bioengenharia executadas nas margens, que
podem ter gerado também a alteração da turbidez.
Para o arsênio total e os metais alumínio dissolvido,
cobre total, cromo total, mercúrio total, níquel total e zinco total os
resultados apresentaram pequena variabilidade, além da maior parte dos
resultados estarem abaixo do limite de quantificação do método analítico.
Chamaram atenção os resultados de cádmio total e
chumbo total, no ano de 2018. O cádmio apresentou picos na estação seca. Mas,
apesar de terem violado limite legal, seus teores não foram suficientes para
afetar a potabilidade da água, ou seja, ficaram abaixo do limite estabelecido
pela Portaria MS nº 2.914.
Já os resultados de chumbo total violaram tanto o
limite legal quanto os limites dos padrões de potabilidade, pelo menos uma vez
no 1º semestre de 2018, em todos os pontos, exceto no Rio Doce, na altura de
Rio Casca. Contudo, é importante destacar a presença de atividades de
siderurgia desenvolvidas na região, que podem contribuir com os valores
encontrados.
Avaliação do comportamento da Turbidez
Observa-se que na série histórica antes do rompimento
(entre jan/2010 e out/2015), 90% dos resultados de turbidez estiveram abaixo de
73,9 NTU, não chegando nem a ultrapassar o limite de classe 2 (100 NTU).
Durante este período, dos 396 resultados, 29 estiveram acima do limite de
classe, sendo que 20 destes ocorreram no período de chuva (meses de janeiro e
outubro) e apenas nove no período de seca (meses de abril e julho).
Ao avaliar os resultados no ano de 2016 (jan/16 a
dez/16), primeiro ano após o rompimento, observa-se uma piora expressiva (50%
dos resultados estiveram acima de 137 NTU), indicando violação em mais de 50%
dos resultados. Dos 143 resultados de turbidez obtidos no ano de 2016, 76
estiveram acima do limite de classe, sendo que 48 registraram violação no
período chuvoso e 28 na estação seca.
No segundo ano após o rompimento (jan/17 a dez/17),
observou-se uma queda nos valores de turbidez (50% dos resultados estiveram
acima de 53,0 NTU). Ao avaliar o número de violações observa-se que das 112
análises realizadas no ano de 2017, 36 apresentaram violação do limite de
classe, sendo 33 violações na estação chuvosa e três na seca.
á no terceiro ano após o rompimento (1º semestre de
2018), registrou-se pequena elevação considerando os seis primeiros meses, com
mais de 25% dos resultados acima de 220,0 NTU e mediana de 66,8 NTU. Ao avaliar
o número de violações, observa-se que das 83 análises realizadas no 1° semestre
de 2018, 37 apresentaram violação do limite de classe, sendo 33 violações na
estação chuvosa e quatro na seca. A piora no 1º trimestre de 2018 pode ser
explicada pelo comportamento sazonal dos resultados, uma vez que a grande
maioria das violações foi registrada no período chuvoso, conforme esperado,
para os períodos avaliados. Na região de Barra Longa, soma-se o fato de terem
ocorrido diversas ações e obras pela Fundação Renova após o período chuvoso,
que podem ter gerado mudanças na qualidade da água, como a alteração da
turbidez.
Esses resultados demonstram o impacto do rompimento da
barragem de Fundão sobre as águas do Rio Doce, especialmente no que se refere
aos resultados de turbidez. Observa-se uma redução dos níveis de turbidez após
o rompimento da barragem, contudo na comparação com a série histórica no
período pré-rompimento, verifica-se que os valores de turbidez, mesmo 2,5 anos
após o rompimento, são bastante superiores aos que eram obtidos antes do
rompimento da barragem de Fundão.
Esses resultados indicam que, mesmo com as diversas
ações implementadas ao longo desses anos, ainda não é possível verificar o
reestabelecimento dos níveis de turbidez ao que eram encontrados antes do acidente.
Avaliação do comportamento do Ferro Dissolvido
Na comparação entre os referidos períodos, observa-se
que os valores de ferro dissolvido sofreram pouca variação entre a série
histórica e os dois anos após o rompimento (2016 e 2017), Registra-se uma
pequena elevação no 1º ano logo após o rompimento, na comparação com o período
pré-rompimento, uma vez que a mediana sofreu elevação passando de 0,13 mg/L no
período pré-rompimento para 0,18 mg/L em 2016. Há que se considerar que as
variações dos percentuais ocorreram todas na segunda casa decimal, não refletindo,
portanto uma elevação dos valores.
No que se refere à violação ao limite de classe 2 (0,3
mg/L) observa-se que na série histórica antes do rompimento (entre jan/2010 e
out/2015) e nos 2 anos após o rompimento 90% dos resultados estiveram em
conformidade com o limite de classe.
Entretanto, no primeiro semestre de 2018, todos os
percentuais sofreram elevação. Nesse período, 50% dos resultados estiveram
acima de 0,30 mg/L, indicando violação em mais de 50% dos resultados.
Observa-se que das 83 análises realizadas no 1° semestre de 2018, 42
apresentaram violação do limite de classe, sendo 18 violações na estação
chuvosa e 24 na seca.
Observou-se um aumento expressivo no 1º ano após o
rompimento e uma redução, principalmente em 2017. Esse fato pode ser confirmado
ao comparar os valores de mediana: 0,06 mg/L no pré-rompimento, 0,18 mg/L no 1º
ano após o rompimento e 0,08 mg/L em 2017. Já em 2018, registra-se uma pequena
elevação considerando os seis primeiros meses, passando a registrar mediana de
0,10 mg/L (indicando violação em mais de 50% dos resultados).
No que se refere à violação ao limite de classe 2 (0,1
mg/L) observa-se que na série histórica antes do rompimento (entre jan/2010 e
out/2015) em torno de 75% dos resultados estiveram em conformidade com o limite
de classe. Porém, após o rompimento, valores acima de 0,1 mg/L foram
registrados em mais de 50% dos dados em 2016 (dos 90 resultados de manganês
total obtidos, 57 estiveram acima do limite de classe) e em torno de 40% dos
dados em 2017 (dos 112 resultados de manganês total obtidos, 43 estiveram acima
do limite de classe).
O manganês também é um elemento importante na
composição do rejeito que extravasou. Além disso, é possível observar que os
maiores registros de violação, em todos os períodos avaliados, ocorreram no
período chuvoso, demonstrando o comportamento sazonal deste parâmetro, assim
como observado para turbidez e sólidos, em suspensão total. Esclarece-se que no
presente estudo o manganês é avaliado na forma total, tal como definido na
Deliberação Normativa (DN) 01/08. Esses resultados confirmam a associação do
manganês com o material particulado em suspensão. Os resultados de manganês
demonstram que mesmo 2,5 anos após o rompimento, os valores ainda permanecem
superiores aos que eram obtidos antes do rompimento da barragem de Fundão.
Fonte: IGAM.