No
último dia 5, o Diário Oficial de Minas Gerais publicou a criação de dois novos
parques estaduais: Serra Negra da Mantiqueira e Botumirim. Com 4.203 hectares,
o Serra Negra estende-se pelos municípios de Lima Duarte, Olaria, Santa Bárbara
do Monte Verde e Rio Preto. Já Botumirim possui 35.682 hectares, distribuídos
pelo município de mesmo nome e Boicaiúva.
Em
audiência pública realizada na ALMG no dia 04/07, moradores, proprietários
rurais, deputados e prefeitos externaram discordância sobre a criação do Parque
Serra Negra. O Prefeito de Lima Duarte, Geraldo Gomes de Souza, município que
abriga o Parque Estadual do Ibitipoca, que tem a maior frequência turística
entre as unidades de conservação estaduais, apoiou a criação, citando os
benefícios gerados pelo turismo no mesmo. Recebeu também apoio de uma
proprietária rural da região, que testemunhou sua importância para melhoria da
qualidade de vida na região e de ambientalistas presentes.
O
Secretário de Estado de Turismo em exercício, Gustavo Pessoa Arrais, defendeu a
criação do parque, citando a importância do turismo para o desenvolvimento da
região e destacando a necessidade dos moradores enxergarem essa proposta como
uma oportunidade. Arrais comentou sobre diversos estados e países que vem sendo
bem-sucedidos no que se refere à geração de emprego e renda através do turismo,
como Monte Verde, cidade com pouco mais de 4 mil habitantes que hoje tem mais
de 190 hotéis e vem se consolidando como um dos principais destinos turísticos
do Brasil.
Os
Prefeitos de Santa Bárbara, Ismael Teixeira de Paiva, e de Olaria, Luiz Eneias
de Oliveira, afirmaram que o parque não interessa à população local nem aos
proprietários das terras, e que se a região ainda está preservada o mérito não
é do governo, e sim dos moradores, que sempre cuidaram bem do local. O Deputado
Antônio Carlos Arantes manifestou-se enfaticamente contra a criação do parque,
tanto na audiência, quanto no facebook, argumentando que indenização dos
proprietários, à semelhança de outras unidades de conservação, não está
prevista pelo governo. Criticou também a gestão dos parques já criados,
chegando a afirmar que "onde está o poder público está tudo queimado e
onde estão os cidadãos, preservados".
Para
Dalce Ricas, Superintendente da Amda, o argumento de indenização é real, mas
não pode impedir a criação de unidades de conservação. "O deputado e
outros que com ele se alinham e brandem este argumento nunca se mobilizaram em
defesa da regularização fundiária. Curiosamente só o utilizam para atacá-las.
Se sua preocupação fosse efetivamente a indenização, já teriam agido, não só
neste governo, mas também nos anteriores para destinação de recursos. O
orçamento do governo é analisado e aprovado pela ALMG. Está mais que provada a
importância das UCs para proteção da biodiversidade e da água e benefícios
econômicos gerados pelo turismo. As afirmações do deputado sobre incêndios
parecem basear-se no princípio de que 'todo proprietário rural é bom por princípio'
e que todos protegem o meio ambiente e utilizam corretamente os recursos
naturais. Não sei de onde ele tirou isto. Seria ótimo se fosse verdade, porque
não precisaríamos criar unidades de conservação", ironizou.
O
Deputado Isauro Calais acredita que os produtores rurais seriam os mais
afetados com a nova unidade de conservação. Segundo ele, os bônus da criação
dos parques vão para o governo, enquanto o ônus fica com os municípios. "O
Parque do Ibitipoca, por exemplo, está lá, mas o produtor rural continua tendo
que consertar a estrada vicinal que ele usa para vender o seu leite",
afirmou. Dalce ironiza: "será que ele acha que isto é responsabilidade do
IEF? Quem mantém estradas vicinais ou deveria fazê-lo são os municípios".
O
Serra Negra protegerá o maior remanescente contínuo de Mata Atlântica da região
do Circuito Serras de Ibitipoca, que abriga espécies raras e ameaçadas de
extinção. O IEF destacou ainda que o local é área de recarga hídrica de grande
interesse socioeconômico no contexto regional; área prioritária para
conservação em escala estadual e nacional; além de grande diversidade
paisagística, beleza cênica e potencial turístico.
Para
Dalce, a criação dos parques reflete empenho e comprometimento da Semad e IEF e
merece elogio e reconhecimento por toda a sociedade. "Temos inúmeras
críticas à postura ambiental deste governo. Mas não podemos ignorar a
importância desta ação, ainda mais num contexto de ataque das unidades de
conservação pelos ruralistas. É hora de bater palmas", afirmou.
Botumirim
A
criação do parque é fruto de grande mobilização de ambientalistas,
pesquisadores e moradores. Seus 35.000 hectares compostos por Cerrado, veredas,
campos rupestres e de altitude e Mata Atlântica, constituem cenário de rara
beleza e abrigam nascentes, cursos d'água e espécies animais e vegetais raras e
ameaçadas.
Fonte: AMDA.