A proximidade do período
seco acende o alerta de incêndios florestais nas unidades de conservação de
Minas Gerais e o número de brigadistas temporárias contratados pelo Instituto
Estadual de Florestas - IEF cai em mais de 20% em 2018. Para suprir minimamente
as necessidades das UCs, deveriam ter sido contratados 340 profissionais, mas o
governo manteve a mesma verba de 2017, que não cobre despesas com salários e
obrigações trabalhistas. Serão 87 brigadistas a menos.
O resultado é que algumas
unidades de conservação ou núcleos do Previncêndio terão redução de brigadistas
ou nenhum será contratado, como é o caso de Santa Bárbara. Juliano Cezar
Nascimento Xavier, Secretário de Meio Ambiente do município, recebeu a notícia
com muita preocupação. A prefeitura cede espaço para o núcleo do Previncêndio,
que atende chamados da APA Sul e Santuário do Caraça, cujo território se
estende pelo município e por Catas Altas.
Para o Secretário de Meio
Ambiente de Catas Altas, Reginaldo Sales, a notícia é preocupante. "É uma
perda muito grande. Se tivermos quaisquer ocorrências, contaremos com menos
gente para combater as chamas", lamentou. A esperança de Sales é a
confirmação do apoio de duas empresas para criação de uma brigada, com seis ou
sete profissionais, em parceria com a Amda.
A redução de profissionais
vem se intensificando há anos. No Parque Estadual do Rio Preto, por exemplo, de
dez brigadistas contratados para o período seco, este número caiu para oito no
ano passado e seis em 2018. "Aperta um pouco, mas é melhor que nada. Tudo
o que vier é bom", comentou Antônio Augusto Tonhão, Gerente do parque.
Nas APAs Cochá e Gibão e
Pandeiros, desde 2013 o número de contratações vem sofrendo reduções, segundo
um funcionário. Cochá-Gibão já chegou a contar com 18 profissionais no período
seco e Pandeiros com 12. No ano passado, este número caiu para 10 e seis,
respectivamente. Para 2018, está prevista contratação de nove brigadistas para
Cochá-Gibão e seis para Pandeiros. A primeira UC possui 296.422 hectares e a
segunda, 396.060 hectares.
A quantidade de
profissionais também caiu significativamente no Parque Estadual Veredas do
Peruaçu. De quase 20 brigadistas contratados para o período seco na APA
federal, este número caiu para 12 no ano passado e sete este ano. O Peruaçu é
considerado um santuário de fauna, pois seu isolamento geográfico, extensão e
remanescentes naturais limítrofes possibilitam ainda a existência de animais
raros em outras regiões de Minas, como onça-pintada e queixada. "É uma
situação lamentável e grave. Quem toma este tipo de decisão deveria ser
obrigado a participar de combates a incêndios para ver e sentir o terror da
natureza. Na verdade, apesar dos discursos de preocupação com os incêndios,
inclusive pelo governador, estamos andando para trás feito caranguejo. A
matemática governamental, feita por quem fica atrás de mesas, não quantifica
economicamente os danos causados ao clima, solo, água, fauna, florestas, saúde
pública, acidentes", disse a Superintendente da Amda, Dalce Ricas.
Para a organização, o
tamanho dos parques deveria ser parâmetro para quantificação do número de
profissionais. Com quase 50 mil hectares, o Parque Estadual de Serra Nova
contará com apenas 10 brigadistas neste ano. A UC já chegou a ter 16
profissionais temporários. Segundo Plínio Santos de Oliveira, gerente do
parque, o número é insuficiente para cobrir toda a extensão do parque.
O mesmo cenário foi
identificado no Parque Estadual da Serra das Araras e Reserva de
Desenvolvimento Sustentável Veredas do Acari. Com a frequência de 12 ou 11
contratações, no ano passado este número caiu para seis e, este ano, subiu para
sete em cada UC. Cícero de Sá Barros, Gerente das duas unidades, espera que a
quantidade de profissionais seja suficiente para conter possíveis incêndios.
"Contamos com apoio de unidades próximas, como o Parque Grande Sertão
Veredas, uma sub-base do Previncêndio na cidade de Januária e o Refúgio de
Pandeiros. Além disso, temos uma pista de pouso em Acari, com um tanque de
pouco mais de 20 mil litros de capacidade", completou.
Neste cenário, os gerentes
buscam formas de enfrentar a situação. Maria Lucia Coimbra Yañed, Gerente do
Parque Estadual do Itacolomi, localizado em Ouro Preto, conseguiu apoio do
Exército para construção de aceiros no parque. "Isso é importantíssimo
para tentar barrar as chamas. Será uma grande ajuda. Também estamos trabalhando
muito a prevenção com a comunidade, chamando os moradores para serem nossos
guardiões", afirmou.
Para Dalce é louvável a
mobilização dos gerentes, sem os quais, em seu entendimento, a situação estaria
muito mais grave. Mas ela considera que a redução do número de brigadistas
continua sendo crítica. "A redução é resultado do sequestro dos recursos
gerados no Sisema pelo governo e o sequestro, por sua vez, é sintoma claro de
políticas contrárias ao meio ambiente. E não adianta protestar, porque o
governo só escuta e responde o que lhe interessa politicamente", disse.
Fonte: AMDA.