Minas Gerais é o estado
brasileiro com maior número de barragens interditadas no país. Relatório
publicado pela Agência Nacional de Mineração - ANM no dia 02/04 aponta que em
todo o Brasil há 47 barragens interditadas após as empresas responsáveis por
elas não possuírem ou apresentarem as declarações de estabilidade, cujo prazo
para entrega acabou no dia 31/03. O estado de Minas Gerais concentra 37 dessas
estruturas consideradas instáveis, enquanto as outras dez interditadas pela ANM
estão espalhadas por cinco outras regiões do país – Mato Grosso, Paraná, São
Paulo, Amapá e Rio Grande do Sul.
Interditadas, essas
barragens estão proibidas de receber rejeitos ou sedimentos, até que a situação
seja regularizada. Vinte e quatro dessas 37 levam o nome da Vale perante a ANM,
mas algumas das outras 13 também são de responsabilidade dessa mineradora,
entre elas a barragem B3/B4 da mina Mar Azul – explorada pela Vale, mas que no
relatório da ANM aparece como “Minerações Brasileiras Reunidas”. Segundo a
própria mineradora, são 26 as suas represas que estão em algum nível do estado
de alerta.
As outras barragens
interditadas são de responsabilidade de empresas como Mineração Geral do
Brasil, ArcelorMittal, Mosaic Fertilizantes, Minérios Nacional, Emicon
Mineração e Terraplanagem, Minas Mineração Aredes e Massa Falida de Mundo
Mineração. As estruturas interditadas, aliás, estão espalhadas por inúmeros
pontos de Minas Gerais. Algumas delas, como a própria B3/B4, em Nova Lima, a
Sul Superior da mina de Gongo Soco, em Barão de Cocais, e Forquilhas I e III,
do complexo Fábrica, na região Central de Minas, já estão em nível 3 de
emergência. Esse nível é acionado quando é decretado o rompimento iminente da
barragem, ou quando a estrutura já se rompeu.
Todas as interdições em
Minas Gerais, assim como as dez registradas em outros cinco estados
brasileiros, aconteceram após o encerramento do prazo para entrega da Declaração
de Condição de Estabilidade - DCE. Ou seja, as mineradoras responsáveis por 37
barragens no estado de Minas ou não apresentaram o documento no prazo correto
ou entregaram uma declaração apontando que a estrutura em questão não é segura.
Aliás, a ANM pressupõe que, se o proprietário da barragem não entregou a DCE
isso significa que a estabilidade da estrutura não pôde ser atestada. As
empresas que adotam esse tipo de prática são automaticamente multadas.
“O não envio da DCE
significa desconhecimento dos riscos associados aos fatores de segurança,
eventualmente abaixo das normas, razão pela qual a ANM interdita essas
estruturas”, esclarece Luiz Paniago, Gerente de Segurança de Barragens do órgão
federal.
Mina
de Timbopeba
Sessenta
e sete famílias precisarão abandonar suas casas, localizadas em Ouro Preto, na região Central
de Minas Gerais, até o término do mês de abril. A evacuação é responsabilidade
da Vale que, no dia 01/04, precisou aumentar de 1 para 2 o nível de emergência
da barragem Doutor, pertencente à mina de Timbopeba. A mudança no nível de
emergência da estrutura está prevista no Plano de Ação de Emergência de
Barragens de Mineração - PAEBM. A mineradora não conseguiu o DCE, e por isso
não está atestada a segurança da represa.
Vale
eleva nível de emergência em barragem, e 67 famílias serão evacuadas em MG
Quando uma empresa declara
que sua barragem está em nível 2 significa que a estrutura não é completamente
segura e, por isso, é preciso retirar todas as pessoas que moram na zona de
autossalvamento – região que seria alagada em menos de 30 minutos caso ocorra
colapso na barragem. A Agência Nacional de Mineração - ANM prevê evacuação
apenas em nível 3 de emergência. Contudo, após a tragédia de Brumadinho, os
critérios tornaram-se mais rigorosos em Minas Gerais e, portanto, a retirada de
moradores das regiões próximas acontece quando uma barragem é classificada como
nível 2. Em Ouro Preto, 235 moradores serão retirados de casa, e levados para
hotéis na região.
Apesar disso, a Defesa
Civil de Minas Gerais defende que não há risco de rompimento na estrutura da
mina de Timbopeba, mas que a mudança de classificação trata-se apenas de uma
medida preventiva. “A portaria da ANM prescreve que a evacuação de pessoas só
ocorrerá em nível de 3 de emergência. Em Minas Gerais, após Brumadinho, nós
adotamos a evacuação de forma conservadora, e retiramos as pessoas quando a
situação da barragem chega a nível 2. O que acontece em Doutor é que, como ela
já estava sendo descaracterizada, um processo para integrá-la ao meio ambiente
após encerramento das operações, ela já estava em nível 1. Agora em março ela
não obteve a Declaração de Conformidade de Estabilidade e, por isso, foi
elevada a nível 2”, explicou em entrevista.
Fonte: O
Tempo