O governo federal
pode ser responsabilizado pelo óleo que contamina as águas marítimas e as
praias do Nordeste. Esse é o entendimento do Ministério Público Federal, de
organizações da sociedade civil ligadas à defesa do meio ambiente e de
especialistas em direito marítimo que participaram de audiência pública no dia
17/10 na Comissão de Meio Ambiente - CMA.
Apesar de as
circunstâncias do vazamento de petróleo na costa brasileira ainda não estarem
esclarecidas, participantes do debate consideram que a União está sendo omissa
em adotar providências para minorar os danos ambientais provocados pelo
derramamento de óleo no litoral. Cerca de 200 toneladas da substância foram
retiradas de praias desde a primeira detecção do material há mais de 45 dias.
O Procurador
Federal Victor Mariz afirmou que os entes federativos — desde os municípios,
passando pelos estados, até a União — também podem ser responsabilizados pela
tragédia ambiental. Na avaliação dele, as medidas preventivas foram
insuficientes para evitar o problema, e o Estado não foi eficiente em monitorar
o óleo antes de chegar à costa.
— É possível sim
se responsabilizar o Estado por uma proteção insuficiente. O Estado pode ser
considerado um poluidor indireto por não tomar as medidas necessárias —
avaliou.
Mariz coordena a
investigação do caso pelo Ministério Público Federal. Ele reforçou que o
material encontrado na costa é semelhante ao petróleo extraído na Venezuela,
mas apontou que é cedo concluir sobre a origem do óleo e os responsáveis pelo
crime.
De acordo com o
Procurador, a investigação é complexa e nenhuma hipótese pode ser descartada no
momento. Estão sendo monitorados os navios que passaram próximos à costa
nordestina no período em que as primeiras manchas foram avistadas. Também estão
sendo analisadas as correntes marítimas, com apoio de oceanógrafos. Entre as
possíveis causas da tragédia ambiental, o MPF considera naufrágios,
derramamentos acidentais ou voluntários por embarcações em águas superficiais e
vazamento em plataformas.
De acordo Carina
de Oliveira, Professora da Universidade de Brasília, especialista em Direito
Marítimo, enquanto não for identificado um culpado pelos danos, a
responsabilidade passa a ser da União. Ela destacou ainda que o Plano Nacional
de Contingência - PNC prevê a centralidade do governo federal nos incidentes de
poluição por óleo.
— Diante de uma
mancha órfã, que é a nossa situação, o Poder Executivo Federal tem diversas
competências. O Brasil é vulnerável a uma responsabilização internacional —
apontou.
Emergência ambiental
A representante do
Ministério de Minas e Energia, Marisa Barros, afirmou que um grupo de
acompanhamento está avaliando o incidente, como determina o PNC. O presidente
do IBAMA, Eduardo Bim, também defendeu as medidas adotadas desde que o
derramamento foi detectado. Ele reforçou que é importante descobrir a origem do
óleo para evitar novos danos, mas enfatizou que a prioridade é a emergência
ambiental.
— A gente não quer
que nenhuma tartaruga, nenhuma ave, nenhum animal morra, mas temos que
monitorar essas manchas. A gente acha que a melhor metodologia é identificar
uma mancha e recolher o mais rápido possível — disse Bim. Não se sabe se a
situação já está controlada ou quanto do petróleo ainda chegará ao litoral. De
acordo com a Marinha, o óleo avança no fundo do mar e só é possível detectá-lo
próximo à costa.
— A mancha é
silenciosa. Os satélites não identificam essas manchas debaixo da água. Essas
manchas têm aparecido muito próximo à costa — salientou o almirante Alexandre
Rabello de Faria, chefe do Estado-Maior do Comando de Operações Navais da
Marinha.
O almirante
destacou que várias hipóteses estão sendo consideradas, como vazamentos e
naufrágios, mas ressaltou que a Marinha não foi comunicada sobre incidentes
dessa natureza, e ressaltou que a investigação é difícil.
Fonte: Agência Senado